Ok, retomando:
15 — Força de um Desejo
Essa é controversa, é bem raro alguém lembrar da existência dessa história. Mas, como fã de romance de época e uma criança ansiosa por um dramalhão assim mais “pesado” (porque eu me sentia muito madura aos meus 8 anos, veja você), Força de um Desejo foi bem marcante. Eu diria que ela veio como um treino para todo mundo que se apaixonou pela minissérie Os Maias alguns anos depois. Eu nem lembro direito das tramas paralelas, mas ver o Fábio Assunção sofrendo de amor pela esposa do pai foi assim… FORMATIVO para o tipo de história que eu gosto de escrever nos dias de hoje.
14 — Laços de Família
Se essa não entrou na sua lista de melhores novelas, o seu passaporte deveria ser caçado. Se tocar Love by Grace na sua frente e você não PENSAR IMEDIATAMENTE NA CENA ABAIXO, ou você é uma pessoa muito novinha ou passou a vida inteira morando em um abacaxi no fundo do mar. Fora que né, vamos combinar: era namorado da mãe pegando a filha enquanto o ator pegava a Marília Gabriela, era menor de idade seduzindo o Zé Meyer… tinha até trama sobre impotência sexual! Você pode questionar a qualidade de Laços de Família enquanto história, mas não pode dizer que ela não rendia fofocas. A novela mais comentada em salões de beleza e eu posso provar.
13 — Caminho das Índias
Glória Perez, conte comigo para tudo. Essa mulher é uma fábrica de bordões, uma máquina para personagens icônicos. Caminho das Índias só não foi consagrada como uma obra-prima porque, para o azar dela, existe O Clone, que é ainda melhor. Porém, devo dizer que apenas uma Juliana Paes muito cheirada largaria o Rodrigo Lombardi pra ficar com o Márcio Garcia (algo que também acontece em O Clone, porque parece uma mania da Glória Perez fazer suas mocinhas terem dedo podre). Odiada por 10 a cada 10 indianos e amada por 10 a cada 10 brasileiros, essa novela sacramentou a imagem da Índia no imaginário do brasileiro (obviamente errando quase tudo).
12 — A Padroeira
Uma pérola injustiçada da teledramaturgia que quase ninguém lembra, mas que valeu cada capítulo. Essa é uma novela engraçada porque o casal principal tinha zero química e ninguém dava a mínima, mas todo o entorno de tramas paralelas era genial. As cenas envolvendo a santa eram sempre muito bonitas, e as questões envolvendo a escravidão e a disparidade social eram tratadas a sério e com menos verniz do que a maioria das novelas (mas lembre que estou falando a partir da memória da Fernanda criança, é possível que muita coisa tenha envelhecido mal).
11 — Paraíso Tropical
Essa novela seria só mais uma ali na média, nem fede nem cheira, se não fossem eles. Os maiorais. Os inigualáveis. Os incríveis Olavo e Bebel. A cachorra mais burra desse calçadão. Um casamento primaveril em pleno outono. Eu nunca torci tanto para um vilão como torci para Olavo, e nunca, nunca vou perdoar Gilberto Braga e Ricardo Linhares por não terem tido coragem de dar um final feliz para ele. Inclusive porque Paraíso Tropical foi exibida em uma época em que a opinião do telespectador contava muito e os finais costumavam ser decididos com base na preferência do público. Fico imaginando se, caso soubessem que tinham um futuro Wagner Moura hollywoodiano em suas mãos, os autores teriam feito diferente.
10 — Terra Nostra
Ok, a partir daqui estamos entrando na realeza das novelas. E essa influenciou tanto o Brasil que até a trilha sonora eu cantei no coral da escola (juro). Se eu não estiver enganada, Giuliana foi o nome mais popular para bebês naquele ano. Thiago Lacerda, Marcello Antony, Ana Paula Arósio e Maria Fernanda Cândido contracenando juntos destruíram a autoestima de uma nação, e Raul Cortez entrando pelado em uma banheira com Maria Fernanda Cândido traumatizou a geração inteira. Nunca se tirou tanta dupla nacionalidade italiana no Brasil, nunca se preparou tanta massa e nunca se bebeu tanto vinho. As tramas paralelas eram divertidíssimas, e a fotografia e o figurino, sempre impecáveis. Deu saudades.
9 — Pantanal
Por mais que o remake tenha seus defeitos, não há como negar o apelo da trama e o impacto de Pantanal (a novela que os jovens assistiam pra ver gente pelada) na cultura televisiva do brasileiro. Fora que tinha todo um tempero a mais em ver atores da versão original retornando para interpretar o pai de seu personagem, ou mesmo o filho de um ator assumindo o papel que antes era do pai. Acho que Pantanal é o mais próximo que a gente teria de um épico (já que Renascer não cumpriu o papel), e é onde Benedito Ruy Barbosa criou seus personagens mais profundos. É uma pena que o remake, na tentativa de se modernizar, tenha perdido um pouco das sutilezas contidas ali. E de todas as coisas imperdoáveis que mencionei nesta newsletter, talvez a pior de todas tenha sido manter o final do violeiro Trindade, possuído pelo Cramulhão. Ele merecia, MERECIA MUITO, não tinha motivo algum para Luperi ser inimigo do romance com o melhor casal da novela. Se eu fosse escrever uma só fanfic baseada em novelas, eu escreveria essa. Mas, ei, pelo menos as mulheres viravam onça.
8 — Orgulho e Paixão
Ainda bem que essa é a minha lista, assim posso puxar Orgulho e Paixão para a oitava posição sem nenhum peso na consciência. Sério. Esqueça que ela não foi a mais magistral das novelas e apenas pense comigo: romance de época baseado em Orgulho e Preconceito e outras obras de Jane Austen, só que seguindo aquela premissa de cidade do interior baseada no realismo mágico do absurdo. Cabelos extravagantes. A mocinha se chama Elizabeta e ninguém tem medo de rir das frescuras inglesas. Você vai ver o senhor Darcy fugindo de uma onça (que não era a Juma). Todo personagem forma um ship. COMO ISSO PODE DAR ERRADO? Inclusive, muito da estética de O Fantasma de Cora veio dessa novela! Uma favorita absoluta.
7 — Cordel Encantado
Eu sei, eu sei que essa novela trouxe um pouco de “filtro amarelo” para a representação do Nordeste, mas não tem jeito, é o meu xodozinho. É uma novela mágica, encantada, com musicalidade, poesia, drama, senso de humor, romance, aventura. Tem cidade fictícia, tem mocinhos gostáveis, tem mistério, tem até rei e princesa! É realmente uma fábula nordestina, algo que eu adoraria ter escrito. O texto era sensacional, cada palavrinha no lugar. Amei todos os minutos e lembro de ficar realmente triste quando terminou.
6 — Senhora do Destino
Essa, por outro lado, é bem diferente das coisas que eu gostaria de escrever, mas me sinto no dever de respeitar quando uma novela das 8 sabe cumprir o papel de uma novela das 8 com maestria. Renata Sorrah fincou uma bandeira, imortalizada como a melhor vilã de novela de todos os tempos, Nazaré Tedesco, rainha dos memes com alcance nacional e internacional. Também foi um dos trabalhos mais legais do saudoso José Wilker — e ESSA SIM foi uma novela que respeitou a vontade do público. Quer saber o que faz de uma novela das 8 uma novela das 8? Essa aqui é uma apostila de estudo.
5 — A Indomada
Mais uma que eu vi no Vale a Pena Ver de Novo. Mas essa formou meu caráter. Essa fez de mim a autora que eu sou hoje. Cidade fictícia, mistério sobrenatural, romance no bordel, músicas icônicas, vilã marcante… tudo encaixadinho no lugar para prender o telespectador capítulo a capítulo. Digo com orgulho que fui uma das crianças que tinha medo do Cadeirudo. Sonho muito que exista um remake dessa novela (e adoraria ser uma mosquinha na sala de roteiro).
4 — Avenida Brasil
Carminha, eu te amo. Se a trama de vingança, a acidez e a irreverência não te fisgassem, Avenida Brasil ainda contava com um trunfo até então inédito: a popularização do Twitter no país. Foi a primeira novela que acompanhei cronicamente online, com comentários simultâneos. Avenida Brasil viralizou. O horário em que ela passava virou tipo um ponto facultativo, e as televisões ficavam ligadas em qualquer estabelecimento. Ela era o assunto, e quem não assistia ficou meio à margem da sociedade por uns meses. Ai, que saudades. Muitas cenas icônicas.
3 — O Clone
A campeã representando as novelas das 8. Do nada, o brasileiro só queria ir pro Marrocos nas férias e era um tal de inshalá para cá e muito ouro para lá. Eu diria que O Clone segurou bastante da islamofobia que os EUA tentaram empurrar goela abaixo para o nosso lado, o que por si só já faria da novela bastante relevante. Mas é que ela era boa mesmo. E com trama de ficção científica. O brasileiro de repente se viu PhD em clonagem e dilemas éticos. As pessoas discutiam a ovelha Dolly tomando caipirinha na praia. Aliás, notando agora… parece que Ruth e Raquel abençoaram todas as novelas em que um mesmo ator interpreta gêmeos, não é? Porque Lucas e Leo foram um fenômeno. Outra novela afetiva do brasileiro, que contava também com a era de ouro do Casseta & Planeta, que, apesar de fazer piada às custas da novela, só fazia aumentar nosso amor pela trama.
2 — Chocolate com Pimenta
A novela das 6 de manual. A coisa mais água com açúcar e humor que era capaz de juntar na mesma sala umas quatro gerações da família e deixar todo mundo contente. A novela que foi assistida até por quem não gostava de novela. A novela que fez referência a Stephen King ao mesmo tempo que cunhava a expressão “é que eu sou chique, benhê”. Todos os personagens eram gostáveis, até os que eram ruins. Destaque especial para a vilã Jezebel, seu mordomo Epaminondas e, é claro, para Bernadette, a filha de Jezebel que na verdade era um menino.
1 — O Cravo e a Rosa
Provando de que as novelas das 6 são as melhores, essa novela não tem defeitos. Não tem. Nunca houve uma fala errada, nunca houve um capítulo descartável. Ela é o Santo Graal de tudo o que a televisão brasileira já produziu e só a minha opinião importa, muito obrigada. E eu tenho certeza que Shakespeare concordaria comigo. Ele provavelmente a estaria assistindo agora mesmo na Globoplay.
Antes de partir, preciso fazer duas menções honrosas:
A) Entendo a importância de Vale Tudo (primeira versão) para a teledramaturgia, mas vou esperar o remake acabar antes de formar uma opinião.
B) Como eu estava na época mais desgastante da faculdade, não assisti Amor à Vida. É por isso que você não encontrou o vilão Felix aqui, embora eu tenha certeza de que ele merecia uma vaga na lista.
Adorei a lista! Nunca jamais em hipótese alguma existirá novela melhor que O Cravo e a Rosa. Todos os núcleos perfeitos, piadas boas, romance sensacional, química perfeita, e ainda teve um mistério no final. Passei noites sem dormir pensando em quem roubou as apólices sem saber o que eram apólices.
Faltou 4x4 poxa! Babalu e Raí!